Let it be!






Raphael Matos chegou à Fórmula Indy neste ano com bagagem e muita moral após a trajetória vitoriosa em categorias-escola na América do Norte. O título da Indy Lights – que felizmente vem readquirindo o status de formadora de “mão-de-obra” como nos velhos e bons anos 90 – foi o auge dessa jornada, após o título na Fórmula Atlantic e anteriores participações destacadas em demais categorias. Esse auge também representou o momento decisivo da carreira do mineiro: o próximo passo seria a subida para a Fórmula Indy ou ele teria mesmo um bilhete de entrada para galeria das “eternas promessas”?

A bandeira quadriculada finalizando a segunda etapa da temporada, em Long Beach, começou a nos responder essa pergunta. A excelente oitava colocação obtida (com direito a momentos de liderança da prova, naquelas ruas pouco aprazíveis para estreantes) foi uma espécie de resposta a um argumento pronto que começou a surgir (e me preocupou) após o acidente do brasileiro com a estrela Danica Patrick, na etapa inicial do campeonato. Nas ruas de St. Petesburg – onde Raphael fez sua estréia na Indy – a disputa por posições acabou por determinar o abandono de ambos, seguido da previsível reação midiática de Danica Patrick (ah, como vai ser bom ver a nossa Bia Figueiredo chegando na Indy em 2010 e assumindo o posto de Mulher-Maravilha...). Creditei parte da responsabilidade pelo acidente no próprio Raphael – apesar do showzinho de Danica, vi mesmo um excesso de ímpeto do brasileiro na ocasião. Entretanto, foi algo que aconteceu naquela corrida (não se esqueçam: era a PRIMEIRA etapa de 2009) e qualquer prognóstico a respeito da conduta de Raphael baseado somente naquele dia era de fato questionável. Mas senti a tendência de categorização do piloto como afobado, afoito, “win or wall” ou coisas do gênero.

Fato semelhante ocorreu na Indy 500, com o acidente nas voltas finais da corrida que novamente consagrou Helio Castroneves (ficaram de olho no follow up da imprensa? Pois é, eles continuaram com aquelas histórias...). O choque com Vitor Meira foi um daqueles lances de corrida onde é impossível dizer que piloto X ou piloto Y foi o responsável. São inúmeros fatores envolvidos no momento de ultrapassagem/disputa que não dá pra ser maniqueísta. Mas o ocorrido foi o suficiente para Raphael ter novamente a possibilidade de taxação de um rótulo. Interessante desse acidente em Indianápolis é levantar a questão da responsabilidade dos pilotos para com a integridade física dos companheiros de profissão. Em minha opinião isso não entra nem em discussão. É inimaginável haver a intenção de um piloto atingir um colega durante uma corrida. Acidentes acontecem e muitos deles são imprevisíveis. Assim, pensar que determinar piloto deliberadamente atingiu o outro sem saber que qualquer ocorrência pode ter conseqüências graves é minimizar a inteligência deles. Por mais incompetente ou inexperiente que algum piloto seja em determinada categoria, ele já andou muito por ai em diversas outras oportunidades e com certeza tem em mente o risco envolvido.


Esses dois acidentes levaram a esse risco de categorização de Raphael como um daqueles pilotos afoitos que não tem a paciência para construir uma ultrapassagem e conseqüentemente um melhor resultado. Independente de ele ser assim ou não – e acredito que não é, afinal o currículo é a melhor prova disso – a minha preocupação com essa rotulação está no que diz respeito a “marcação” em cima do piloto. O rookie nos Estados Unidos (isso em esportes coletivos em geral) acaba sendo tratado de uma maneira diferentes dos demais – e a meu ver correta. Não é no sentido de passar a mão na cabeça. É mais voltado ao desenvolvimento daquele que menos possui experiência na área (vemos em alguns casos o papel de “mentor”, quando alguém mais experiente assume uma espécie de acompanhamento do novato). Enfim, aquele cara que acabou de chegar e de fato não será como os outros – pelo menos por enquanto. Entendo que isso facilita a adaptação no contexto em questão. No caso específico de corridas, isso acaba sendo minimizado pela ocorrência não tão rara de pilotos estreantes não terem companheiros de equipe. Dessa maneira, acaba sendo praticamente inexistente essa presença de alguém para “apontar o caminho” e ele sofre um pouco mais com essa marcação que gera rótulos instantâneos.

Com isso posto, o meu recado para Raphael Matos e para quem deseja colar rótulos instantâneos é: Let it be! O ano de estréia é justamente para isso: errar, se atrapalhar, fazer besteira, perder pontos importantes por desatenção e tudo aquilo que ocorre quando se começa algo. Raphael já demonstrou antes desse ano e nas corridas da temporada que é, certamente, um dos grandes potenciais brasileiros nas pistas da Indy. O aprendizado que ocorrerá neste ano só será possível com esses percalços e erros. Isso tudo fomentará o espírito de piloto vencedor. Portanto, let it be!

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