Comparações: Will Power a pé e a Penske de 1994.


Olá amigos. Hoje, gostaria de tocar em um assunto que está deixando os fãs da Fórmula Indy com sentimentos divididos, que é o fato do piloto australiano Will Power, ficar sem uma vaga fixa para disputar o resto da temporada na principal categoria de monopostos dos Estados Unidos.
Como todos nós sabemos, Power foi contratado pela equipe Penske antes do início desta temporada, com a intenção de ser o substituto do nosso Helio Castroneves enquanto o mesmo estava empenhado em provar sua inocência perante as acusações de fraude ao fisco norte-americano.

Desde a contratação de Will Power por Roger Penske, o australiano já tinha uma certa noção de que caso Helinho fosse absolvido de suas acusações, teria que ceder o cockpit do carro número 3, de volta ao “Homem Aranha”. O fato é que todos os envolvidos com a Fórmula Indy, já previam que Power não iria decepcionar em termos de desempenho na sua curta passagem pela principal equipe da categoria, além disso, não é exagero supor que o próprio australiano devia nutrir algum tipo de esperança de permanecer na Penske mesmo com a volta de Castroneves.

Will Power conquistou a sexta posição em sua primeira corrida da temporada, em Saint Petersburg. Apesar de aparentemente parecer um resultado mediano, o australiano fez uma corrida muito boa, chegando inclusive a andar em terceiro lugar. Porém é bom lembrar que devido a uma pequena lambança que causou em uma das paradas de troca de pneus e reabastecimento, acabou caindo as três posições que lhe jogaram para a sexta colocação. Já no tradicionalíssimo circuito de Long Beach, palco da segunda corrida do ano e local aonde Power se consagrou no ano passado ao vencer a última corrida da história da saudosa Champ Car, ainda correndo pela equipe KV, o piloto conquistou a pole position, correndo em um terceiro carro da Penske, já que Helio Castroneves, que acabava de se livrar das acusações diante da justiça, conseguiu chegar à pista californiana a tempo de participar da prova. Desta maneira, Power de certa forma ocupou naquela corrida, uma posição que há muito tempo não víamos na Fórmula Indy, que foi a de piloto de um terceiro carro da equipe Penske.

Emerson Fittipaldi em Phoenix 1994, local de sua vitória pela Penske Mercedes naquela temporada.

Ao final da prova, Power conquistaria uma honrosa terceira posição, que o colocou na vice-liderança do campeonato naquele momento.
Mas infelizmente, ali terminava a esperança do piloto poder disputar uma temporada completa pela lendária equipe vermelha e branca, que havia oferecido um carro tão bem acertado (e bonito, diga-se de passagem), como o monoposto totalmente preto com o qual Will assumiu tão boa colocação na tabela do campeonato.

Esse fato nos leva a refletir e questionar por qual motivo a Penske não tem condições de, hoje em dia, colocar um terceiro carro para que Power dispute a temporada completa (e não apenas a Indy 500 como foi anunciado) e assim possa formar uma “super equipe” com três pilotos de ponta como Helio Castroneves, Ryan Briscoe e Will Power. Realmente, este seria um time dos sonhos de qualquer fã da Fórmula Indy, pois dessa maneira a competitividade e disputa entre Penske e Ganassi se tornaria ainda maior. Seria uma situação única e espetacular, assim como aquela protagonizada pela própria Penske no distante ano de 1994. Quem não se lembra do chamado “trio mágico”, formado por ninguém menos do que Emerson Fittipaldi, Paul Tracy e Al Unser Jr, todos eles correndo com carros da Penske equipados com o incrível motor Mercedes-Benz turbo!!

Ilustração dos três primeiros colocados em Milwauke: Unser Jr., Fittiáldi e Tracy. A primeira das cinco trincas da Penske no ano de 1994.

Aquele ano realmente pode ser considerado o melhor de toda a história da lendária equipe. Correndo com um chassi construído pela própria Penske (algo impensável nos tempos modernos de crise e altos custos), equipados com um dos motores mais espetaculares da história do automobilismo, uma verdadeira obra de arte e ícone da excelência da engenharia alemã, o lendário motor Mercedes-Benz IC108E V8 turbo, que “pulverizou” toda a concorrência durante aquela temporada, e olha que estamos falando de uma época onde as indústrias investiam pesado na concepção de motores para a Fórmula Indy. Naquele ano, a Mercedes-Benz conseguiu tirar enorme vantagem em termos de potência através de seus motores com comandos de válvulas laterais e com acionamento das mesmas feito por varetas. De acordo com o regulamento técnico da categoria naqueles tempos, motores com essas características, podiam utilizar dez polegadas a mais de pressão do turbo do que os outros tipos de propulsores. Aliando essa vantagem, ao fato de o motor IC108E ter robusteza e resistência a quebras impressionantes, devido ao seu bloco ser derivado de um motor Mercedes feito para carros de rua (o mesmo V8 utilizado no modelo E430 que pode ser observado rodando pelas ruas), essa receita rendeu ao time de Roger Penske, nada menos do que 12 vitórias em 16 corridas realizadas na temporada! Dessa maneira a equipe conquistou o título com Al Unser Jr, em uma das mais espetaculares campanhas já vistas na história do automobilismo. As vitórias foram divididas em uma para Emerson Fittipaldi, na etapa de Phoenix, três para o até então gorducho e maluco Paul Tracy, nas etapas de Detroit, Nazareth e Laguna Seca e nada menos do que oito para “Little” Al, nas etapas de Long Beach, Indianápolis, Milwaukee, Portland, Cleveland, Mid-Ohio, New Hampshire e Vancouver.

O motor Mercedes da Penske em 1994. Nada menos do que 1000 cavalos de potência.

Podemos dizer inclusive, que o Penske Ilmor Mercedes-Benz, pode ser considerado um dos poucos carros de Fórmula Indy “clássicos” em toda história da categoria. Por ser um campeonato onde qualquer equipe pode comprar o seu chassi, não são muitos carros que chegam a ocupar a memória até mesmo daqueles que não são muito admiradores da categoria dos ovais. Estamos falando de carros como a Lola-Cosworth de 1993 que deu o título para Nigel Mansell com a Newman-Haas, a Lotus-Ford com a qual Jim Clark se consagrou em Indianápolis, o Chaparral Pennzoil de efeito-solo, vencedor do campeonato de 1980 com Johnny Rutherford, os Reynards-Honda que dominaram a categoria entre 1996 e 1999 com Jimmy Vasser, Alessandro Zanardi (principalmente) e Juan Pablo Montoya, todos correndo pela Chip Ganassi.

Não posso deixar de compartilhar com vocês uma experiência que vivi em 2004, quando ainda morava na minha amada São Paulo. Em visita a feira Autosports, organizada pelo próprio Emerson Fittipaldi naquele ano, pude conferir uma emocionante palestra oferecida pelo próprio bi-campeão mundial de Fórmula 1, onde o mesmo falou um pouco sobre o ano de 1994 onde dirigiu a Penske-Mercedes ao lado de Paul Tracy e Al Unser Jr.

Emerson Fittpaldi em sua palestra na Autosports 2004. Foto tirada por Fabio Henrique. Ao lado de Emerson, o polêmico jornalista Lemyr Martins.

Emerson disse que era simplesmente de arrepiar, quando estava guiando o seu Penske durante a classificação da Indy 500 daquele ano, e em plena reta dos boxes de Indianápolis, com o carro na sexta marcha, a pressão do turbo no seu limite e andando a uma velocidade de 380 km/h, as rodas traseiras simplesmente “patinavam” como se estivessem em uma marcha reduzida, pois pediam uma sétima marcha que era inexistente!! Não é a toa que o antigo motor IC108E rendia mais de 1100 cavalos de potência, sendo talvez, um dos três motores de mais absurda cavalagem da história do automobilismo mundial, junto com o também lendário BMW M12 1.5 4 cilindros turbo que equipava as Brabhams de Fórmula 1 nos anos 80 (inclusive conquistando o mundial de 83 com Nelson Piquet) e finalmente o insuperável motor 12 cilindros bi-turbo boxer de 5.3 litros e 1.580 cavalos de potência que equipava o monstruoso Porsche 917/30 que dominou o campeonato de protótipos Can-Am nos anos de 1972 e 1973 com o falecido piloto Mark Donohue.

Poxa, as lembranças sobre o que era a Penske em 1994 foram tantas, que até acabei fugindo um pouquinho do assunto. Mas o que eu quis passar para vocês foi isso, a situação complicada pela qual a Fórmula Indy passa neste momento em termos financeiros. E isso é retratado exatamente por esse acontecido na equipe Penske, onde um talento como Will Power terá que ficar a pé e tendo a única certeza de que correrá somente na Indy 500.
Realmente é uma pena, penso que muitos fãs gostariam de ver a equipe do nosso querido Helinho Castroneves, reviver os bons momentos em que corriam com três grandes pilotos como em 1994. Afinal, se os moldes da categoria não permitem mais com que tenhamos tremendos “tesouros” na parte técnica, como aquele motor Mercedes, pelo menos a Penske teria a chance de ter três grandes pilotos ocupando seus carros.

Mas é o tal negócio, por mais que procuremos pesquisar sobre o esporte e entender os seus bastidores, nenhum de nós está dentro da equipe para saber a situação financeira das coisas..
Espero que eu tenha expressado o pensamento de muitos de vocês.

Al Unser Jr momentos antes de sua espetacular vitória na Indy 500 de 1994

*Apenas uma observação: Gostaria de parabenizar o Helinho pela espetacular performance na corrida do Kansas. Mesmo não podendo participar dos treinos da pré-temporada e da primeira etapa do campeonato, Castroneves mostrou o espírito combativo e persistente que sempre lhe foi característico. Incrível ele ter largado em último e ainda assim conquistado a segunda colocação! Espero e tenho certeza, de que este ano ele terá mais oportunidades do que nunca para finalmente conquistar o seu tão sonhado título. Seria uma “lavada” em sua alma depois de ter sofrido dias tão tensos em sua vida, no começo deste ano.


2 comentários:

Muriel Henrique disse...

Se a Penske não tem dinheiro para financiar um terceiro carro,eles deveriam arranjar novos patrocinadores.

Natanael disse...

O problema é justamente os patrocinadores. Quase ninguém quer fazer investimentos. O dómínio da Penske em 1994 foi tão absurdo que no ano seguinte os motores com comandos de vareta foram proibidos. Assim Emerson Fittipaldi ficou fora da Indy500 em 1995. Emmo até tinha velocidade para estar classificado com um carro emprestado por Bobby Rahal (na Indy500 quem classifica é o carro não o piloto, ao menos era assim), mas Roger Penske decide abortar as voltas de Emmo, para classificar-se com seu próprio carro, o que não foi possível. A partir dali a Penske começaria a ter um martírio na CART, seu chassis próprios foram engolidos pela Reynard e pela Lola, azar de André Ribeiro que foi piloto da Penske na pior hora da Penske e encerrou a carreira para ser representante de um dos negócios de Roger Penske trazendo para o Brasil, se não me engano era revenda de carros. A Penske só voltou a dias melhores quando desistiu de fazer ela mesma os chassis de seus carros e passou para a Reynard em 2000, combinado com o motor Honda. Foi o bi de Gil de Ferran

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