GP de Toronto 2009, a história contada de mais perto.

Grande Prêmio de Toronto 2009, por Marco Matsumoto.


O ano de 2009 foi especial. Dois sonhos realizados, conhecer o Canadá e ver a Formula Indy. Como não tenho nenhum conhecido no Canadá, a forma mais fácil que encontrei foi realizar um intercâmbio de um mês durante as férias. Os ingressos foram comprados pela internet no Brasil quatro meses antes da corrida. Os preços pra arquibancada variavam de CAD 60 a CAD 180. Comprei um lugar na frente da reta dos boxes, mais o acesso ao pit throw e ao paddock. Somando os impostos saiu tudo por CAD 250. (1 CAD ≈ R$ 1,80).

Toronto é a maior cidade do Canadá, mas o centro financeiro é bem pequeno se comparado a São Paulo. O que diferencia é a organização e planejamento. Saindo do centro é possível ver um cenário que lembra os seriados americanos. Casas sem portões, carros nas ruas, não há muros entre os vizinhos, enfim, tudo lembra interior. A segurança também é um diferencial. Podemos andar tranquilamente nas ruas, as crianças vão ao parque e deixam os brinquedos largados e ninguém rouba. O prédio comercial onde ficava a escola não possui guarda, nem recepção pra identificar os visitantes. É só entrar, pegar o elevador e está na empresa desejada (o elevador dá acesso direto aos escritórios, cheguei a entrar em um por engano e ninguém percebeu, rs). Também não há polícia nas ruas. Tudo vem da educação das pessoas. Educação que só não vi no metrô. Em São Paulo cada passageiro ocupa um lugar no banco. Em Toronto as pessoas ocupam dois e se há alguém de pé azar o dele. Absolutamente tudo é facilitado para os deficientes. Há diversas atrações para turistas, mas os imperdíveis são a CN Tower e Niagara Falls. De Toronto também há excursões para Montreal (segunda maior cidade), Ottawa (capital) e Quebec (cidade que mantém as tradições européias dos séculos passados e onde a língua oficial é o francês). O clima em julho é verão, com temperaturas chegando a 29 graus e o dia durando até as 21h30. Canadá é conhecido por ser multicultural. Metade da população de Toronto é formada por imigrantes. Nas ruas é possível ouvir e ver gente de todos os lugares. E como tem árabes e orientais.

Imagens de Toronto. No sentido horário: Reta dos boxes, linha de chegada, curva 1 e pit-lane.

O circuito de rua da Indy fica localizado próximo ao BMO Field, estádio de futebol onde joga o time local. É uma área pouco movimentada que fica a 10 minutos de bonde do centro. Três semanas antes da corrida passei lá e nem parecia que seria realizada uma corrida. Apenas algumas arquibancadas estavam montadas, não haviam obras, nem propagandas. A área não estava interditava e o trânsito fluía normalmente. Vejam algumas fotos da reta dos boxes:

O acesso é muito fácil, o transporte público de Toronto é extremamente eficiente. Basta pegar um mapa gratuito em qualquer estação de metrô que é possível andar na cidade. Pagando CAD 108 (cerca de 180 reais) é possível pegar qualquer transporte (metrô, bonde e ônibus) quantas vezes quiser no mês.

Durante a semana que antecedeu a corrida alguns eventos foram realizados incluindo o famoso desafio de Pit Stop entre os profissionais da mídia. Paul Tracy entregou o prêmio ao vencedor. Realmente ele está acima da média de peso dos outros pilotos.

Após a competição o desafio foi aberto ao público. Eu também fiz a minha tentativa. Aquela parafuseira é bem pesada e o difícil é acertar a posição correta.


Acompanhe a tentativa de Marco Matsumoto fazendo a troca de pneus em um IndyCar.

Reparei que não havia muita divulgação nos jornais e algumas pessoas que conversei nem sabiam que haveria corrida. Lá o esporte mais praticado no verão é o baseball. Em todas as praças tem uma turma jogando. É como futebol no Brasil. Hockey no gelo também é forte, mas não há partidas no verão (óbvio).

Na sexta-feira começaram os treinos. Logo na entrada do lado de fora já dava pra escutar o ronco dos motores e os carros reduzindo pra fazer a curva 1. Sem muito esforço (não havia fila), entrei e sentei na arquibancada em frente a reta dos boxes. Os lugares estavam marcados no ingresso e os canadenses faziam questão de sentar no lugar comprado, mesmo com a arquibancada vazia. No começo o barulho é ensudercedor, mas depois acostuma (ou eu que fiquei um pouco surdo, rs). O ronco é grave, diferente de um F-1, que o ronco é agudo e mais forte. Antes mesmo de acabar o treino fui dar uma volta pelo circuito. Vi que havia um acesso da pista ao paddock (onde as equipes ficam ajustando os carros, semelhante à garagem da F-1). Quando o treino terminou foi possível ver a movimentação das equipes levando os carros da pista para o paddock. Isso passando entre o público que tirava fotos. Não havia segurança, nem cordão de isolamento. As pessoas simplesmente respeitavam deixando os carros passarem.


Entrei na área do paddock pra ver os carros, mecânicos e pilotos de perto. Passei o dia todo, mas foi difícil encontrar algum piloto. Quando aparece é aquele amontoado de gente querendo autógrafo (curioso que os canadenses pediam autógrafos ao invés de tirar fotos). Confesso que fiquei decepcionado com o comportamento dos pilotos, incluindo os brasileiros. A grande maioria sempre está com pressa, não param pra trocar uma palavra. Dão o autógrafo, tiram a foto e se mandam. Diferente quando os vemos pela tv, quando sempre estão sorridentes e contando piadas. Afinal, para a mídia é necessário bancar o simpático e atencioso. O único que deu atenção foi o Helinho. Do lado oposto as equipes da Indy Lights tinham muito mais tranqüilidade para trabalhar.

Tony Kanaan, Danica Patrick, Ana Beatriz Figueiredo e Hélio Castroneves com Marco.

No sábado pela manhã uma forte chuva caiu na cidade, chegando a interromper o treino livre. O jeito foi ir para o pavilhão de exposições e jogar uns games. Minutos depois o sol abriu e o dia foi semelhante a sexta-feira. No final da tarde a sessão oficial de autógrafos. A fila estava enorme e quando cheguei próximo dos pilotos descobri que eram quatro acessos com quatro pilotos cada e naquele estava a Danica Patrick. Durante a sexta e sábado teve corridas de outras modalidades, mas acabei nem assitindo. Vi somente a Indy Lights com a pista ainda úmida.

No dia da corrida a movimentação era outra. Imprensa, segurança reforçada e muitos torcedores. Falaram em mais de 60 mil pessoas no circuito, mas só se for juntando os 3 dias (ou seja, eu conto por 3). Como base de comparação um Morumbi lotado ou Interlagos quando recebe a F-1 são 70 mil e isso sim é uma multidão (haja paciência pra chegar e ir embora). No pit lane os mecânicos estavam de macacão, ao invés das camisas e bermudas usadas nos treinos. Antes da corrida teve um show da Sass Jordan (não conhecia, mas tocaram músicas agradáveis de ouvir). Quando o pit throw foi aberto ao público encontrei uma mulher na frente do pit da Penske com uma jaqueta vermelha e bandeira do Brasil. Pensei, deve ser parente do Helinho. Não, era Lilian DeGobbi. Ela e seu marido são brasileiros, moram nos EUA a 25 anos e são donos da equipe estreante ELFF Racing da Indy Lights, pilotado pelo também brasileiro Rodrigo Barbosa. Fotos do pit:

Quase tudo pronto para as cerimônias iniciais. Apresentação dos pilotos na ordem inversa do grid, hino nacional com direito a passagem sincronizada dos caças, fogos e o famoso "start your engines" dado por Gene Simmons (vocalista do Kiss).


A largada do GP de Toronto por um ângulo que você ainda não viu.

Volta de apresentação e bandeira verde! O piloto da casa Paul Tracy dava um show a parte com manobras arrojadas que deixavam o público enlouquecido e que ficaram mais ainda no meio da prova quando Tagliani e Tracy estavam na frente. Porém em uma disputa por posições, Helio se enroscou com Tracy e os dois deixaram a prova. Tracy ficou no muro, Helio levou o carro até o pit e levou uma sonora vaia do público:


Helinho leva uma grande vaia da torcida canadense.

No final a vitória foi de Franchitti. Após a prova aconteceu a pesagem dos carros e equipes fazendo as últimas avaliações antes de partirem para Edmonton.

Você pode acompanhar mais da aventura de Marco Matsumoto em Toronto, nos seguintes endereços:

Vídeos
Fotos

Marco Matsumoto, Paulista, Analista de Sistemas e torcedor do Palmeiras. Gosto de jogar futebol, correr de kart, ver shows de rock e tocar instrumentos musicais (teclado, bateria e violão).
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Você pode contar a sua história também aqui no Blog da Indy. Entre em contato e mande sua aventura em uma pista da Indy seja no Brasil ou fora do país.

3 comentários:

Anônimo again disse...

Lembro como se fosse ontem o Emerson disputando na última curva de Toronto a vitória, logo após um toque com o Danny Sullivan em que este saiu da pista e facilitou as coisas para o "Rato" ou "Emo" conseguir a sua quarta vitória na Indy (antes havia vencido em Michigan, Elkhart Lake e Cleveland). Foi a primeira vitória que eu vi de um brasileiro na CART/INDY e despertou o meu interesse sobre a categoria . O ano foi 1987 e isso me fez fã daquele circuito que felizmente, após a unificação IRL + Champ Car, voltou a receber os carros de Indianápolis depois de um longo tempo.

Leonel Mattera disse...

Belo texto... dá prá imginar legal a experiência! Agora sim que estou louco prá garantir meu ingresso para a SP Indy 300!

Abraços!

José Morelli disse...

Tenho pra mim que o circuito de rua de Toronto é um dos melhores de todo o mundo, em vários sentidos que vão além da questão da atmosfera local ser muito boa. O circuito é uma delícia de se guiar (nunca fui ao Canadá rsrs e nunca pilotei nada lá) mas venho jogando jogos, simuladores e mods há muito tempo - sou macaco velho no automobilismo virtual e posso garantir uma coisa, Toronto está no top 5 de melhores pistas pra se fazer uma corrida de automóvel - em especial de open wheel, no MUNDO!!! Se no mundo virtual já é sensacional (até rimou), imagine no mundo real (rimou de novo). Tá pau a pau como Belle Isle em Detroit que também é uma delícia guiar...Eu espero que o circuito de rua de São Paulo seja tão bom quanto, e eu acredito que vai ser sensacional!

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