Nesta quarta-feira (11) o Blog da Indy entrevistou o piloto brasileiro Mario Romancini que competiu nas 11 corridas iniciais da temporada 2010 da IndyCar Series. Entre outras coisas, Mario falou a respeito da preparação de um piloto na Indy Lights, na forma de pilotagem de um circuito misto e oval, as dificuldades de conseguir patrocínios e as chances de voltar a competir ainda este ano. O foco para 2011 continua sendo a categoria com base norte-americana.
Blog da Indy: Como foi para você deixar de competir na Europa onde foi seu objetivo inicial e partir para os Estados Unidos?
Mario Romancini: Quando voltei da Europa em 2008, estava sem patrocinadores e cheguei até a fazer algumas etapas na Stock Car. No começo de 2009 não tinha perspectivas de voltar a correr já que estava sem patrocinadores. Foi aí que surgiu o treino no início de fevereiro com a Andersen Racing na Indy Lights. O treino foi bom e a partir daquele ponto consegui firmar um contrato para correr a temporada toda.
BDI: Sabemos que os gastos com as categorias de base no Brasil, superam os gastos de muitas categorias maiores no exterior. Até que ponto você acha que compensa correr em uma F3 Sul-americana, cada ano com os grid mais minguados e os valores mais caros?
MR: Realmente cada dia as categorias ficam mais fracas no Brasil. Isso é triste, uma pena. Pois hoje o garoto que sai do kart não tem para onde ir. No meu ano de Formula Renault tinham mais de 20 carros no grid e no ano de Formula 3 quase isso também. É importante ir passo a passo com a potência dos carros. Não adianta sair do kart e já sentar num carro de 400 cavalos. Tem que haver uma preparação de base antes para aprender os fundamentos básicos de um carro de corrida antes de ir para uma categoria desse nível.
BDI: Como foi a escolha para competir na Indy Lights? Existiu o contato com muitas equipes?
MR: Foi realmente na persistência. Não tinha manager, ninguém trabalhando comigo naquela época e não conseguia aceitar o fato que não iria correr mais. Foi quando em janeiro comecei a olhar na internet, pesquisar as equipes, resultados e etc. Comecei a ligar para as equipes que tinham tido resultados bons em 2008 e mandar meu currículo. Pedi a oportunidade de um teste para que pudesse mostrar alguma coisa e tentar fechar um contrato. Sabia que nos Estados Unidos teria mais chance de fazer isso do que na Europa, já que não tinha dinheiro algum de patrocinadores.
BDI: Diga como é a primeira vez de um piloto com essa formação, quando se depara com um circuito oval. Sabemos que as técnicas de pilotagem são totalmente diferentes. Como foi a primeira vez que você sentou em um carro pra andar em um oval? A sua primeira volta em um oval? Você diria que para quem aprende a guiar em mistos, a experiência de andar em um oval é mais simples do que para quem aprende o contrário?
MR: Mistos e Ovais são completamente diferentes. Graças a Deus meu primeiro contato com oval foi como "amor à primeira vista" (risos). Tinham me chamado para andar somente um dia de treino no circuito misto de Homestead. Mas o treino foi bom e o dono da equipe me pediu para ficar mais um dia, pois eles testariam na configuração de oval no dia seguinte. Na primeira volta assusta um pouco, é muito mais rápido que um circuito misto. A técnica é outra também. Mas me adaptei rápido e terminei aquele dia como segundo mais rápido. Foi até curioso, pois as minhas melhores corridas o ano passado foram nos ovais. Minhas duas vitórias e a corrida de Indianapolis também quando sai de 18º e terminei em terceiro.
BDI: No final de 2009, após vencer em Homestead e encerrar o campeonato em sexto lugar, você pretendia disputar mais uma temporada na Lights ou já estava decidido subir para a Fórmula Indy?
Foto: Ron McQueen
MR: Não, já estava decidido a subir para a Indy. Sempre me senti preparado, estava confiante. Tinha tido resultados bons, contra equipes muito mais fortes e com vários problemas mecânicos que enfrentamos durante o ano. Era uma questão de achar a oportunidade e agarrá-la da melhor maneira possível. Foi o que fiz, infelizmente não deu pra terminar.
BDI: Desde que a Indy Racing League sanciona a Indy Lights (2002), os pilotos formados por esta categoria não tem vida longa na Fórmula Indy. Você que esteve lá em 2009, falta algo para a categoria? Neste ano, por exemplo, temos apenas 15 carros competindo regularmente na temporada, não é pouco? Os custos da Indy Lights estão muito elevados?
MR: Realmente é muito pouco. A Indy Lights esse ano está com problemas. Acho que o custo é muito alto, e não há incentivo algum para os pilotos da Indy Lights subirem. Melhor exemplo é o John R. Hildebrand, que ganhou o campeonato e até agora só correu Mid-Ohio. Enquanto que por outro lado você vê pilotos da Europa sem passagem pela Indy Lights entrando direto na IndyCar como o Adam Carroll e o Baguette.
BDI: Em um circuito misto o piloto sabe onde são os pontos de freada e reduções de marcha, as curvas contornadas de pé em baixo e etc. Em ovais de média ou baixa velocidade, como o piloto sabe o quanto “deve levantar o pé” para contornar uma curva? É na base do “feeling” mesmo? Ou é tentativa e erro? Quando você anda pela primeira vez em um oval que não seja de alta, com curvas inclinadas, você recebe algum tipo de orientação sobre qual curva deve levantar o pé um pouco, ou algo assim?
MR: É mais pelo feeling. Você tem que sentir até aonde o carro agüenta ir sem levantar o pé. Mas existe muita coisa envolvida. Algumas vezes, por exemplo, é melhor você levantar o pé antes e ter uma saída mais forte do que deixar o pé lá trancado com os pneus dianteiros esfregando e depois de quinze voltas estar com os pneus destruídos. O acerto do carro conta muito também neste tipo de pista.
BDI: Você se sentiu pressionado por estrear na Fórmula Indy em São Paulo ou seria a mesma coisa que estrear em outra pista qualquer?
MR: Com certeza a pressão foi maior. Era a minha primeira corrida de Indy, em uma pista nova, e com as circunstâncias em que a prova ocorreu tornou ainda mais difícil.
BDI: O combustível financeiro injetado pela Dolly foi apenas para a 1ª etapa ou serviu para fazer mais alguma prova?
MR: Foi basicamente para a primeira etapa, depois estávamos com os patrocínios da equipe.
BDI: Como foi se classificar no Bump Day? Em algum momento você se viu fora das 500 milhas?
MR: Com certeza fiquei ameaçado! Foi uma tensão enorme no Bump Day. Até a minha última tentativa não sabia se estava dentro ou não. Tinham pilotos muito fortes brigando pela vaga. Paul Tracy, Tony Kanaan. Foi o dia mais nervoso da minha carreira. É muito complicado depois de um mês de trabalhos em Indianapolis você ver sua oportunidade de entrar na corrida ameaçada. Fomos muito agressivos com o acerto do carro e consegui fazer quatro voltas boas. Valeu a pena!
Foto: Ron McQueen
BDI: A Indy sofre um grande problema tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos que é a TV. Apenas cinco das 17 etapas são exibidas nos Estados Unidos em TV aberta, no Brasil o panorama é um pouco melhor. Como é para um piloto conquistar patrocínios desta forma?
MR: Muito difícil. Na minha opinião quase impossível. Estava brigando pelo titulo de estreantes e tive que parar no meio do campeonato. Quantos brasileiros têm patrocinadores brasileiros? Que eu me lembre, NENHUM!
Foto: Ron McQueen
No Brasil, com a enorme divulgação da emissora que exibiu a corrida, Romancini contou com três patrocinadores nacionais.BDI: Você anunciou no Twitter o dia de sua última prova na Indy, em Edmonton. Dracone chegou com combustível financeiro para duas etapas. Caso a Conquest não consiga um piloto como o europeu que trouxe dinheiro, pode correr o risco do carro Nº 34 não competir na fase final dos ovais? Para a equipe receber um valor X da Indy, ela não tem que inscrever o carro em todas as etapas? Com isso, suas possibilidades de retornar a categoria aumentam?
MR: Exatamente. Essa é a minha esperança. Acredito que o carro 34 tenha que correr até o final do ano. E existe a possibilidade de eu retornar para os ovais Estou trabalhando muito duro para isso. Mas as vezes fica difícil competir com o dinheiro.
BDI: Foi possível aprender alguma coisa com seu companheiro de equipe, pois você é quem tinha a experiência em pistas ovais e já tinha duas corridas na categoria antes dele chegar. Na Fórmula 1 já vimos varias vezes um piloto não compartilhar o acerto do carro com seu companheiro, na Conquest Racing e na própria Indy acontece isso?
MR: Nós compartilhávamos a telemetria sim. Acho que ajudou. Nosso carro estava melhorando muito nos mistos. Andei entre os 15 nos últimos 3 mistos que corri, mas infelizmente por problemas mecânicos ou acidentes que não pude evitar não consegui terminar as corridas. A prova disso foi em Mid-Ohio em que o Baguette terminou na 11ª posição.
BDI: Simona de Silvestro foi escolhida como a novata de Indianápolis em uma decisão polêmica e recebeu premiação por isso. Você sendo o novato que melhor completou a prova não ficou revoltado com isso?
MR: Fiquei. Mas infelizmente não houve nada que pudéssemos fazer para reverter a situação. Não apenas fui o melhor estreante da corrida, mas também ganhei o prêmio de estreante mais rápido da classificação. Dentro da pista sei que o fui o melhor entre os estreantes, mas alguns fatores extras devem ter influenciado nessa decisão.
Foto: Chris Jones
BDI: Independente de acertar seu retorno para esta temporada, a sua meta é voltar a categoria ano que vem? Hoje, qual a porcentagem de chances de sua volta ainda este ano, e caso ocorra, será apenas na Conquest Racing?
MR: Acredito que tenha 50% de chances de voltar. Meu objetivo sem dúvida nenhuma é de continuar na Indy. Trabalhei muito duro para chegar até aqui e já tive muitas dificuldades antes na minha carreira. Não serão essas agora que vão me impedir de continuar lutando pelo que quero!




3 comentários:
Aê Jackson, muito boa a entrevista! Abraço
Eu queria uma entrevista desse molde com o nosso amigo Luiz Carlos Azenha, será que tem jeito?
Grandes lembranças!!!!
Aí não seria só uma entrevista, daria pra fazer um livro, rs...
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