A quantidade de histórias interessantíssimas que a Fórmula Indy guarda em seu passado, é algo realmente surpreendente. Acontecimentos ainda pouco explorados pela nossa mídia, que sempre prioriza notícias sobre Fórmula 1, mostram a riqueza histórica existente na categoria ao longo dos anos.
Por isso, hoje vamos conversar sobre um fato que na época de seu acontecimento, não teve a divulgação que merecia e só se tornou público aos fãs, através da Internet.
Trata-se do teste que o lendário Rick Mears, fez pela saudosa equipe Brabham de Fórmula 1, em 1980. Naquele ano, Mears já era um piloto mais do que consagrado na Fórmula Indy. Tendo conquistado o campeonato de 1979 e as 500 Milhas de Indianápolis da mesma temporada, todos já sabiam que o arrojado piloto nascido no Kansas, iria se tornar uma das estrelas dominantes no cenário das corridas da então CART. Mas Rick Mears não imaginava na época, que uma dessas pessoas que admiravam o seu enorme talento, era nada menos do que Bernie Ecclestone, que na época não atuava como principal cartola da Fórmula 1 como hoje em dia, mas sim, como o chefão da equipe Brabham, certamente uma das mais poderosas da Fórmula 1, no início dos anos 80.
Ecclestone estava muito otimista quanto o papel que a Brabham iria desempenhar ao longo da temporada de 1980. O modelo BT49, equipado com o motor Ford Cosworth V8, dava sinais de que seria um carro muito equilibrado e competitivo. Finalmente, depois de quatro temporadas sofrendo com o potente, porém pouco confiável motor Alfa Romeo de 12 cilindros, a equipe parecia ter encontrado no Ford V8, um motor que “casaria” perfeitamente com o simples, porém sólido e estável, chassi desenhado por Gordon Murray. Outro grande trunfo da equipe, seria a então revelação da Fórmula 1, na época, Nelson Piquet. Depois de dois anos de muito aprendizado, observando Niki Lauda, seu companheiro de equipe em 1978 e 1979, Piquet já estava maduro o sulficiente para conquistar ótimos resultados. A única chateação de Bernie Ecclestone, portanto, era quanto aos pilotos que ocupavam o outro carro da Brabham. O argentino Ricardo Zunino, nunca demonstrou velocidade e esforço ao volante do BT49. No meio da temporada, foi substituído pelo mexicano Hector Rebaque, que também não mostrou bons rendimentos à bordo do carro da Brabham, que era reconhecidamente um carro de ponta na época. Assim, antes da substituição de Zunino, precisamente um fim de semana antes do Grande Prêmio dos EUA (Oeste) em Long Beach na Califórnia, o chefão da Brabham resolveu dar uma chance de teste em sua equipe, a um piloto que realmente demonstrasse talento e seriedade no cockpit e esse piloto era Rick Mears. Bernie viu uma boa oportunidade em trazer um piloto dos EUA para um carro de ponta na F1 e a véspera da corrida em Long Beach, seria a oportunidade perfeita para testar o que de melhor havia em matéria de piloto de monoposto nos EUA. Ninguém melhor do que Mears para uma avaliação.
A pista escolhida para o teste, foi a espetacular Riverside na Califórnia. Um circuito de tirar o fôlego, que possuía um traçado de altíssima velocidade, com uma curva de alta inclinada que mais parecia ter sido “retirada” de um oval. Infelizmente, Riverside foi demolida em 1989, o que os fãs do automobilismo consideram um “crime”, das mesmas proporções da “mutilação” das antigas retas de Hockenheim, na Alemanha.
Existem poucas informações “oficiais” sobre o teste, mas é sabido que Nelson Piquet estava presente e ficou encarregado de dar as primeiras voltas com o BT49 para averiguar o comportamento do carro na pista e marcas algumas voltas rápidas para ter parâmetro do tempo que um F1 seria capaz de virar na pista. Além de claro, deixar o carro acertado para que Mears pudesse treinar. Quanto aos pneus, aqueles que estavam presentes no teste, afirmaram que os dois pilotos tiveram acesso a jogos novos de compostos. O que Rick Mears fez em suas voltas, foi algo totalmente incrível: Diminuiu em 2 segundos o melhor tempo registrado por Nelson Piquet! Algo totalmente inacreditável quando pensamos que era o primeiro contato de Mears com um F1 e que aquele que “tomou” tempo era ninguém menos do que Nelson Piquet, um piloto que raramente ficava atrás de companheiros de equipe ou de qualquer piloto que estivesse dirigindo um carro igual ao dele. Diz a lenda, que grande parte dessa vantagem conseguida por Mears, foi pelo fato do campeão da Indy, mais acostumado aos ovais, não encontrar dificuldades em contornar a desafiadora e absurda curva inclinada de Riverside, em “flat”, com o pé cravado no “talo” do acelerador. Aliás, quando escrevo que “Mears, mais acostumado aos ovais”, conseguiu marcar um excelente tempo no misto de Riverside, caio em uma pequena contradição que me leva a conclusão de que Rick era sim um piloto mais do que completo.
Esse teste só serviu para impressionar ainda mais a equipe Brabham e a intenção de Ecclestone, era inscrever Mears já para o Grande Prêmio de Long Beach, na semana seguinte ao teste. Mas no fim das contas, isso acabou não acontecendo, pois Ecclestone queria que Mears levasse dinheiro de patrocinadores para a equipe, sendo que na Indy, Rick ganhava um bom salário da Penske e não precisava de patrocínio pessoal para garantir sua vaga no grid. Além do mais, havia certa burocracia para conseguir uma super licença para Mears, já que na época a CART não era reconhecida pela FIA. O campeão agradeceu pela oportunidade, disse que Piquet foi muito receptivo no teste, mas preferiu dedicar sua carreira aos ovais. E pelo visto a sua decisão foi a mais acertada possível: Rick Mears conquistou nada menos do que três títulos de campeão da Fórmula Indy e mais quatro vitórias nas 500 Milhas de Indianápolis, façanha esta só alcançada por homens como A.J. Foyt e Al Unser Sr!
Fabio Henrique é um viciado em automobilismo, principalmente pelas corridas do passado. Piloto de Kart dois tempos desde os 14 anos, estudante de jornalismo e apaixonado por mecânica, espera contribuir com o blog expondo seus pontos de vista. Entre em contato com o Fábio: fabiok15jps@hotmail.com






5 comentários:
Rick Mears foi considerado simplesmente o rei dos ovais. A habilidade para ultrapassagens por fora que ele tinha era fora de série.
Rei dos Ovais e que teria mto sucesso nos mistos. Isso que é lenda. E vendo agora que a Riverside foi demolida em 1989, deu vontade em saber como era pilotar lá. Vou já baixar ela para experimentar no meu Rfactor, não vejo a hora de ver como era essa curva inclinadíssima.
Alguns dias depois desse fato Nelson Piquet venceria a sua primeira corrida na Fórmula 1, no GP dos Estados Unidos Oeste em Long Beach de 1980. Naquela temporada Piquet venceria ainda as provas de Zandvoort e Imola e disputaria o título palmo a palmo com Alan Jones até a penúltima corrida, quando uma quebra o eliminaria da briga. Como essa história poderia ter sido diferente se Mears tivesse entrado para a Brabham e sido companheiro de Piquet, ao invés dos inofensivos Zunino e Rebaque.
Ótima história!
O Mears teria feito um estrago na F1!rs
Me lembro que o Mears ganhou algumas corridas em circuitos mistos na CART. Acho que ele tinha era preguiça de virar o carro para direita e para a esquerda o tempo todo. Mas ele era melhor até que o Sam Hornish Jr. , este sim, um Mazzacane ou Nakajima nos mistos, porém rápido nos ovais.
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