
A tarde nublada do dia 20 de junho de 1999 em Portland, Oregon, viu o que podemos considerar a mais importante vitória brasileira na América do Norte. Gil de Ferran levou a bandeira brasileira ao lugar mais alto do pódio, “pra arrebentar com o jejum” de vitórias, nas palavras então eternizadas por Téo José.A temporada de 1999 estava chegando a sua metade e confesso que ainda me questionava a respeito da capacidade de Juan Pablo Montoya. Oriundo da Europa, o colombiano era rookie e vinha barbarizando em praticamente todas as provas da temporada. Um desempenho impressionante para quem não possuía experiência em circuitos da América do Norte, mesmo a bordo da melhor máquina da segunda metade dos anos 90 na Cart: o Reynard da Chip-Ganassi. O carro campeão com Jimmy Vasser e Alex Zanardi nos três anos anteriores foi o responsável pela explosão do colombiano em 1999 ou Montoya era de fato a força maior daquele conjunto? Entendo que a vitória em Indianápolis no ano seguinte e os demais resultados tanto na Cart como na Fórmula 1 testemunham a favor dele. No final daquele ano, mesmo o título tendo sido definido no critério de desempate, eu não me questionava mais a respeito do que ele era capaz. E tudo isso só abrilhanta a vitória de nosso Gil em Portland.
Além disso, para nós brasileiros havia outro fardo que a cada dia tornava-se mais insustentável: o jejum de vitórias. Desde 1997 não havia uma bandeira brasileira tremulando no ponto mais alto do pódio, o que levou a categoria a um caminho sem volta: a transmissão em VTs na tv aberta - história já contava em prosa e verso aqui no nosso blog (história essa que parece nunca ter fim...). O término das transmissões ao vivo na televisão contribuiu para uma redução drástica da cobertura da categoria nas demais mídias, inaugurando o círculo nefasto sobre o qual falamos na última coluna. Dessa maneira, a categoria encontrava-se, perdoem-me pela palavra, discriminada no Brasil em meados de 1999.
Na pista do Oregon, então, as circunstâncias não poderiam ser “melhores”: além do jejum brasileiro, a Walker de Gil calçava Goodyear, reconhecidamente inferiores aos Firestone de Montoya. O prognóstico de vitória era no máximo uma hipótese. Porém contávamos com um futuro campeão. E olha que Gil (vejam como não faltaram adversidades) fez uma parada a mais no pits que a maioria dos pilotos, incluindo o colombiano. Enfim, tudo culminava contra. Mas “não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez”, e no final ouvimos bem alto o “Tema da Vitória”.
É nesse contexto que classifico a vitória de Gil como a mais importante para nosso país nas terras ianques. Nesse panteão de vitórias memoráveis também menciono Michigan-85 (a primeira), Indianápolis-89, Nazareth-89 (a corrida do título) com Emerson e, claro, Rio-96 com André Ribeiro. Todas essas quatro tem algo em comum: a perspectiva de crescimento. Se em 1985 Emerson colocou a Indy no mapa, em 1989 ele entrou para a história por duas vezes, com Indy 500 e o caneco posteriormente. No Rio de Janeiro André concretizou o sonho de ver a Cart no país com uma vitória “cereja no bolo”. Estes momentos da categoria em 1985, 1989 e 1996 eram de expansão e estabelecimento no país, ao contrário de 1999. Naquela tarde em Portland todos nós nadávamos contra a corrente. Quando Gil cruzou a linha de chegada para “não perder mais” foi de lavar a alma, em uma espécie de redenção para todos. Que aquele sentimento da tarde nublada do dia 20 de junho de 1999 jamais acabe.
7 comentários:
Grande vitoria do Gil em Portland, junto com a de Cleveland foi uma das melhores vitorias que eu já vi.
cara me lembro como se fosse hj, eu assistia todas as etapas da formula mundial com apenas 9 anos, e quando o gil ganhou pulei tanto, meus pais tava dormindo e nao entendiam nada rs
Carlos, Cleveland foi demais também! No You Tube dá pra relembrar a bandeirada e a narração do Teo em http://www.youtube.com/watch?v=NkTm7Ca400g. Vale a pena ver!!!
Olha Bhruno, com certeza seus pais e os meus tiveram a mesma sensação naquele dia! Um abraço!
Gil de Ferran sofria com os penus Goodyear na Walker naquela temporada. Sua vitória em Portland foi fantástica e assim o Brasil encerrou o jejum que vinha desde a vitória de Maurício Gugelmin em Vancouver 1997. Gil de Ferran que na temporada seguinte iria para a Penske e assim sagrar-se bi-campeão da CART.
Lembro como se fosse hoje,precisava acordar cedo para ia à aula na segunda mas tava lá assistindo e torcendo,quando vi o Gil sair na frente do Montoya no segundo pit, quase não acreditei.Quando o Gil fez o terceiro pit meu coração quase saiu pela boca.Nem ficava mais sentado no sofá, estava de joelhos na frente da tv,rsrsrsrs.
Alan, é verdade! Depois do terceiro pit - com o Gil abrindo vantagem para o Montoya - era impossível ficar sentado, só olhando! Um abraço.
Postar um comentário