Indy no anel externo de Interlagos: É possível?


Olá amigos do Blog da Indy. Escrevo este texto com a finalidade de sanar uma dúvida de muitos colegas frequentadores do nosso site:

Por que a São Paulo 300 não pode ser realizada no anel externo do autódromo de Interlagos? É difícil reformar esta parte do circuito paulistano?


Pois bem, acho que todos já sabem que um dos principais obstáculos para a realização de uma corrida da IRL em Interlagos, certamente é o aval do Sr Bernie Ecclestone. É de conhecimento público que Interlagos só pode receber uma categoria de monopostos top de linha, que é obviamente a Fórmula 1. Isso faz parte do contrato feito entre Ecclestone e os responsáveis pelo autódromo. Assim fica claro que ninguém jamais pensaria em arriscar perder a Fórmula 1 para tentar sediar a etapa brasileira da Indycar.

Outro fato que impede a realização da Indy no autódromo paulistano, é o atual estado e a configuração física do anel externo. Talvez este seja o empecilho que mais curiosidade desperte nos fãs, como pudemos comprovar através das várias perguntas que chegam aos e-mails do nosso blog.

Vista aérea do autódromo de Interlagos. Em vermelho o sonhado circuito oval.

Há 20 dias tive a oportunidade de fazer uma prazerosa e cansativa caminhada por toda a extensão do autódromo de Interlagos. Andei pelos poucos trechos do traçado antigo ainda existentes e também pelo traçado atual, o utilizado na F1. Amigos, quem nunca pisou no asfalto da famosa curva 1, hoje desativada, não sabe o que é aquilo. Só estando de pé na parte mais alta daquele trecho é que você entende porque até hoje os fãs mais antigos exaltam tanto homens como Jean Pierre Jarier, Ronnie Peterson e Jacques Laffite, alguns dos poucos que tiveram coragem de percorrer “em flat”, ou “pé em baixo” a absurda curva.

Apesar de possuir uma inclinação realmente muito grande, é visível que um “moderno” Dallara Honda teria sérios problemas caso escapasse naquele local. Creio que para um monoposto moderno, não seria problema fazer o trecho sob aceleração plena. Qualquer carro de fórmula moderno possui muito, mas muito mais downforce e aderência do que os F1s de 1972-1980 (época em que a principal categoria usou o traçado velho de Interlagos).

GP Brasil 1980, o último realizado no traçado antigo. Pode não parecer mas a inclinação da curva 1 é gigantesca.

Os pneus possuem aderência absurdamente maiores do que os compostos utilizados antigamente. O grande problema estaria relacionado à segurança. Observando o raio da curva 1, é perceptível que apesar de ser inclinada e de alta, ela ainda assim é bem diferente das curvas em flat encontradas no circuitos ovais. Em um oval, as curvas possuem um raio projetado para que se um carro tenha problemas e venha a bater no muro, o veículo “deslize” através do guard rail até parar. Já na curva de Interlagos, caso um carro venha a se chocar contra o muro, certamente ele será arremessado de volta para a pista, o que poderá causar acidentes de proporções trágicas. Basta lembrar da enxurrada de críticas que a subida dos boxes de Interlagos recebeu após o triste acidente que ceifou a vida do piloto Rafael Sperafico, na Stock Car Light em 2007. Fica bem claro que o que levou Rafael a falecer não foi a primeira pancada no muro, mas sim o fato de o seu carro ter ricochetado no muro, voltado para a pista e ter sido acertado em cheio pelo stock que vinha atrás. Claro que o que aconteceu na Stock Light foi uma fatalidade daquelas que raramente acontecem, mas na IRL o perigo oferecido pelas curvas de alta do anel externo e principalmente a curva 1, seria algo bem evidente.

O espaço físico do autódromo também seria um grande transtorno caso fosse planejada a construção de áreas de escape ou muros com o famoso safe barrier. Há 30 anos atrás Interlagos ficava praticamente no meio do nada. Até um bosque com eucaliptos existia próximo a pista! Hoje em dia a cidade praticamente “agasalhou” o traçado. Digo que há uma rua com casas comerciais a não mais do que 20 metros da antiga curva 1. Na antiga curva 3 atrás do lago então, praticamente impossível de construir algo minimamente seguro.

A única vez que um monoposto andou no anel externo: Luiz Pereira Bueno em um March Ford 721, quebrando o recorde do anel externo nas preliminares do gp brasil de 1972.

São bem aparentes os motivos que não permitem que o anel externo seja reformado para receber a Indycar. Claro que seria um grande presente para todos nós se um dia o traçado antigo fosse restaurado, nem que apenas para provas de clássicos ou exibições. Digo que como amante incondicional do automobilismo, este seria um dos meus maiores sonhos realizados..

Não pude deixar de sentir um frio na barriga e sentir algo “atentando” minha consciência quando olhei para a antiga reta oposta e percebi que a mesma é tão longa que é até difícil ver o seu fim.

No mais, espero que seja um grande sucesso o circuito de rua a ser montado na região do pavilhão de exposições do Anhembi. Como paulistano, cresci visitando com meu pai todos os domingos a famosa Feira Livre do Automóvel, realizada no local que abrigará a área dos pits da São Paulo 300. Jamais poderia imaginar que local receberia um dia os motores V8 da Fórmula Indy, despejando os seus 700 cavalos nos pneus que marcarão aquele solo com borracha de alta performance!

6 comentários:

Anônimo disse...

Muito sábia a sua análise! Realmente não dá...
Ah, sim, a foto "GP Brasil 1980..." mostra a saída da curva 1 e a curva 2, da entrada do Retão(que não era conhecido como "reta oposta" - a antiga reta oposta é a mesma reta oposta do traçado atual).
Abraços,

Adriano Reis
Goiânia

Anônimo disse...

Primeiramente, aquela foto da curva 1 é emocionante só de ver, imagine quem teve a oportunidade de assistir uma corrida in-loco naquela época.

Mas Fabio, tire uma dúvida minha, alguns anos atrás a Indy não corria no mesmo circuito da F1 no Japão? Sendo que para a européia era usado o misto e para a americana o oval? Então essa imposição do titio Bernie é recente, ou a pista do Japão tem/tinha contrato diferenciado?

Obrigado.

Guilherme F./São Paulo-SP

Natanael disse...

Guilherme F. no circuito de Motegi, além da Indy é disputada a Moto GP utilizando o circuito misto. Somente a CART sediou etapas de seu campeonato na mesma pista durante a mesma temporada que a F1. Era Montreal no Canadá. Essa etapa de Montreal foi disputada de 2001 até 2005 eu acho,o tempo que existiu a coincidência de temporadas algum editor do blog te responde com mais certeza. Mas te dou certeza que apenas Montreal sediou CART/Champ Car e F1 na mesma temporada.

Ever Rupel™ disse...

tem um post no Blog do Pandini com uma entrevista com o administrador de interlagos...
ele fala da inviabilidade do oval...
seria legal divulgar o post pro povo parar de viajar achando q terá oval em 2011

Anônimo disse...

Nunca vou esquecer uma corrida que assisti no antigo autódromo entre mavericks e 2 dodges. Um dodge(se não me engano, de Denísio Casarine) largou em terceiro, mas na reta oposta ultrapassou os dois mavericks à frente. No entanto, no final dela, rodou em 360 graus e caiu novamente para terceiro. Na volta seguinte aconteceu a mesma coisa, na reta oposta ultrapassou os dois mavericks à frente, rodou em 360 graus e caiu novamente para terceiro. Infelizmente na quinta ou sexta volta o Dodge abandonou a corrida. Mas aquele momento foi mágico e só quem estava lá pode delirar com as manobras Aquela reta oposta era fantástica!

Anônimo disse...

Excelente blog. Belas imagens as suas. Diria até que são verdadeiras relíquias do automobilismo nacional. Parabéns pela sua iniciativa.

E de fato, seria interessantíssimo ver a F-Indy em interlagos, se não fosse no circuito antigo, que fosse no atual, mas concordo que aí, o nível de comparação com a f1 seria muito grande, e como os tempos de volta seriam menores que os dos f1, certamente, geraria algum tipo de contrangimento que não agradaria aos organizadores da f1.

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